O caso é que essa Maria me encanta, com seu corpo sem curvas e seu tom de pele acinzentado, de quem não quer conversa, de quem tem o pouco que precisa; uma certa aura de decadência pode ser sentida mesmo a oito quadras de distância. Nas janelas, quase nunca abertas, entrevejo coisas velhas e de velhos... Paredes mofadas, estantes com abajures de gatinho, espadas de São Jorge em cima de um mesosóico ar-condicionado, retratos de bebês e de antigos casais pregados nas paredes. Tele Senas guardas com rádios que não funcionam mais.
Nunca entrei no lugar, nimguém nunca entrou, Maria Faustina é mais que uma construção de concreto e vidro, ela é um estado de espírito... Para conhecer e ver o Maria Faustina, você precisa ESTAR Maria Faustina. Precisa sentir e saber como é o silêncio calmo e esquecido da casa de uma vó que nunca teve netos nem filhos; precisa saber das epopéias cotidianas dos velhos solitários; precisa sentir o cheiro da caixa de areia do gato da puta do andar de baixo; precisa ignorar os boatos sobre o porteiro fumar maconha e fomentar os boatos sobre o porteiro ser um ex-presidiário violento.
Maria Faustina com seus azuleijos de um azul claro, no banheiro; com piso de parquê nos corredores, com sua cota de fodidos, mentirosos e estupradores.
Hoje me sinto bem Maria Faustina.
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