sexta-feira, 28 de março de 2008

Sobre Coisas que encontramos no chão

Calor...tédio...as moscas zumbindo e pousando de forma irritante como naquele filme de bang bang que o pai dele adorava...como era mesmo o nome?? Vai saber, a memória dele nunca foi muito boa pra cinema..."ele" em questão é o Jaime... quele cara ruivo deitado ali no sofá; as moscas estão voando perto da cabeça dele, viu?? Os all star riscados e seu pôster do Mucous Membraine não escondem que ele é mais um adolescente subproduto da Mtv brasileira...sim, Jaime também é um brasileiro...tão idiota quanto você custumava ser na idade dele... ou vai ser... Jaime tem 17 anos.Mas o calor continua,o suor faz suas costas grudarem na couro falso do sofá, as moscas zumbem com ainda mais vontade ;a tarde talvez ficasse menos intediante se pudesse se masturbar, mas não passava nada com um conteúdo mesmo que levemente erótico na Globo ás três da tarde; pelo contrario, as faces rosadas e felizes daquelas crianças do filme só faziam-o ter vontade de cagar na boca delas.

As opções não eram muitas... resignar-se e morrer de tédio logo ou descer até a rua e ir na videolacadora alugar qualquer filme com um título tipo "Taradas por um cavalo" e bater punheta até cansar...ou...ou...ah!! Tem aquele cubo mágico que ele achou no chão, na frente daquele boteco onde tinham matado um cara no ano passado. Em termos de atividades sem finalidade alguma, isso ficaria entre se masturbar e morrer de tédio... não era tão bom quanto um orgasmo...mas não era tão tedioso quanto assistir aquele maldito filme. A ida até o quarto foi um mártirio, qualquer movimento era dificultado pelo súbito peso que seu corpo parecia ter adquirido, só teve sossego quando uma brisa fria entrou pela janela da cosinha e atingiu seu rosto...abriu a porta do quarto e começou a procurar pelo cubo, estava lá; no bolso de fora de sua mochila, exatamente onde deveria estar. Pegou aquela obra prima da tecnologia da década passada e contemplou-a com uma cara abobalhada, parte pelo sono que o tomava ... parte pelo fato de realmente ele ter uma cara de abobado. Ligou o rádio e pôs o Doors para tocar...

A televisão ainda estava ligada na sala... mas foda-se, não era ele quem pagava a luz. "Riders on the Storm" tchandadadan..."Riders on the Storm"... ritmando como um coração de algum monstro velho e gordo... Jaime girou a primeira fileira horizontalmente e mechendo com a

parte do meio de forma vertical...as peças amarelas se distanciaram das verdes e se a proximaram das vermelhas, mas o cérebro de Jaime não processavam mais merda nenhuma além do fato de que brincar com aquilo era terrívelmente chato e estressante. Só uns segundos depois que ele notou que podia formar uma lateral inteira do cubo com os quadradinhos azuis com não mais que três ou quatro movimentos, isso indiziu um pouco de adrenalina em seu cérebro adolescente. Rapidamente ele moveu o cubo e quando deveria fazer o último movimento houve um estalo seco. Jaime sentiu uma vontade incontrolável de espirrar e teve coceiras infernais nas axilas e nas costas... sem falar que a bixiga dele parecia que estava queimando... de olhos fechados ele não pôde ver que tinha saído do quarto que ele conhecia.

Quando levantou da cama Jaime procurou pelo cubo perto de seus pés mas não o achou... aquele ataque bizarro tinha passado tão rápido quanto surgiu e só restavam os olhos lacrimejantes e a bexiga implorando pra ser esvaziada, ia procurar a porcaria do brinquedo depois que desse uma boa mijada. No banheiro os azulejos faziam o ambiente manter um frio agradável, melhor que no resto da casa... depois de mijar ruidosamente puxou a descarga e saiu o quarto.Quando entrou denovo no quarto deu um pulo pra traz e soltou um grito que ele mesmo definiria como "fodidamente gay"; deitado na cama de Jaime,havia um homem magricelo e feio, a cara enrugada e os cabelos ralos pareciam muito com a das pessoas atacadas por lepra que nosso herói tinha visto num site que um amigo dele visitava.

- Sai do meu quarto, porra!!Quem que tu é?? -Jaime pôs as mãos em concha bem no meio da testa como sempre fazia quando o pânico tomava conta dele; havia algo de estranho naquele homem... não era apenas a feiura... tinha algo nele...algo que não era real e isso fazia um mal terrível a sanidade do garoto.

Por um instante o visitante ignorou as frases, na verdade, olhou para os lados como que procurando a pessoa com quem Jiame falava... mas depois de uns dois segundos o feioso olhou fundo nos olhos do adolescente e disse em voz baixa...

- É comigo?? - ele apontava para si mesmo com o fino dedo indicador e tinha uma careta intrigada no lugar do rosto

Os olhos do intruso eram totalmente negros e Jaime gelou até a espinha quando notou isso,

-Caralho!! Claro que é cuntigo!! Que tu quer aqui!! Vai imbora!! - Jaime não sabia de onde aquilo tinha saído,mas nem se importava, só queria que aquele cara horroroso saísse de cima da cama dele. O suor comessava a escorrer, um suor que não vinha do calor,o suor do nervosismo.

O homem passou as mãos nos poucos cabelos que tinha na sua cabeça e fez um outra careta, dessa vez uma expressão de "oh merda" surgiu em meio as rugas e ele resmungou,

- Porque no meu turno?? - inclinou a cabeça pra traz lentamente até cair deitado novamente-tem certeza que pode me vêr??

- Que merda de pegunta é essa?? CLARO que eu posso te vêr!! - ótimo, aparentemente sua casa tinha sido invadida por um leproso drogado que achava que era invisível.

- Odeio quando isso acontece- o feioso resmungou para si mesmo -Bem, Jaime, não era pra você estar aqui meu amigo.

- Essa é a merda do meu quarto!! Minha casa!! Claro que eu devia tá aqui!! Tu é que não devia!! - a cada segundo aquela situação parecia mais bizarra e dissonante - Quem tu é??

-Na verdade você não está mais no seu quarto... pelomenos não no propriamente dito...- mecheu no bolso da calça e tirou um maço de Marlboro Vermelho, acendeu um (usando um isqueiro roxo ridículo) e tragou profundamente - Vai ser um dia longo... já vi que vai!! - soltou a fumaça.

-Foda-se o teu dia cara!! Esse é meu quarto e já falei pra sair da minha casa!!

O leproso, ou sejá lá oque a mente idiota do Jaime achasse que Guilherme fosse (sim,era esse o nome dele) passou a mão no rosto e disse de fomar impaciente...

- Tá, calaboca Jaime, calaboca e me escuta!! Esse não é o teu quarto real, é só uma ilusão emitida pela ressonãncia da energia do teu verdadeiro quarto; esse não é o plano material... pode parecer muito metafísico pra você mas tudo aqui é construído por forças neutras e karmicas...- olhou sério para o garoto.

- Quê?? - Guilherme notou que Jaime estava mesmo confuso...

- O.K...vou ter que te explicar isso de outra forma... vamos até a sala - e seria mesmo um dia terrivelmente longo.


Quando chegaram na sala Jaime ficou abismado quando olhou para o sofá... parlisou; seus olhos não consseguiam parar de olhar pra aquilo. Poderia fazer você entender melhor o que era "aquilo" se chamarmos a tal coisa com seu devido nome, e a palavra para definir "aquilo" seria, "tentáculo", embora é claro, "tentáculo verde e com alguns pêlos" defininisse ainda melhor "aquilo", mas mesmo assim não falaria das verruguinhas pretas... intão... bom... "aquilo" era na verdade uma porcaria bem difícil de se definir. E definitivamente não era o tipo de coisa que Jaime estava acostumado a ver fora dos filmesde terror.

-Mas... oque que é... ??- o olhar dele ia de Guilherme para "aquilo" e de volta para Guilherme... naquele silêncio pôde ouvir Jim Morrison resmungando baixinho no rádio do seu quarto... Mais uma tragada do cigarro e Guilherme estava pronto pra começar a aula...

-Isso é uma presença parasítica, feita basicamente de fluídos negativos e ectoplasma residual, se alimente de material incefálico de qualquer tipo. mas adora mostarda também.

Uma olhada rápida e constatou que o adolescente cuntinuava tão desinformado quanto antes, talvez até um pouco mais agora. Então tentou ser mais direto.

- Essa coisa feia aí é produto de energia ruim e pedacinhos da coisas da qual são feitos os fantasmas... daria até pra dizer que ela é um tipo de... "emoção fantasma" e se alimenta de coisas que tem no teu cérebro... prefere lembranças não muito revisitadas, são mais fáceis de pegar.

-Quer dizer que isso come meu cérebro?? E que é um fantasma?? Tem uma porra de fantasma debaixo do meu sofá?? - Jaime quase podia rir de todo aquele caos que tinha virado a sua casa.

-Basicamente é isso... mas não se preocupe,ele só conssegue fazer isso quando você dorme aqui no sofá - o cigarro já estava na metade agora. Os dois notaram que "aquilo" que saia de tras do sofá tinha um olho na ponta e estava assistindo atentamente ao filme das crianças rosadas.

- Isso não devia tá aí!! Eu nunca vi essa merda aí antes...

- Claro que nunca o notou, no seu mundo ele é metafísico demais; lá ele é uma idéia intangível e abstrata... beirando a inexistência as vezes... mas aqui... aqui ele é bem real.

Jaime olhou sério para Guilherme e perguntou,

- Eu tô drogado ?? Isso é alguma viagem??

- Não garoto... esse é só o plano que faz o seu funcionar... bem-vindo aos bastidores do plano material... meu nome é Guilherme, sou oque os católicos talvez chamassem de seu "anjo da guarda"...sou o responsável por monitorar você.

- Anjo... da... ah, merda... eu morri ??

- Não muleque burro, foi só uma forma de falar !! Você está vivo...só está...longe de casa.

-Como...por que tu me trouxe aqui??

-Eu não trouxe !! Era pra eu te monitorar até as seis da tarde depois disso devia usar minha Pistola de Indução de Conciência pra te fazer dormir, então eu ia ir pra casa... mas a merda do cubo-mágico parece que serviu de indutor espaço-temporal pra as forças cósmicas de ressonãncia... os filhos da puta da GMR nunca concertam direito essas porra de vazamento!!

- É incrível como cada vez que tu abre a boca eu intendo menos ainda... -a loucura do Universo tinha se atirado com toda força sobre a cabeça do Jaime, que a essa altura já nem achava tão ruim aquela tarde tediosa que ele estava tendo antes de pegar o cubo mágico.

- Tá bom... vamos por partes... o que você quer saber ??

Havia um bilhão de perguntas a serem feitas e ele sabia que resposta delas geraria mais um zilhão de novas perguntas...

- Foda-se cara...só ... me manda de volta pra casa... rápido.

- Bom... essa é uma parte ruim garoto, agora você é uma ameaça a integridade espaço temporal da sua realidade natal... já foi esposto a muito da nossa radiotividade metafísica se fosse pra de volta pro seu plano, não seria mais que um sonho de um sonho... além do

quê, isso comprometria toda a estrutura da realidade... ficar por aqui é a melhor solução... vêm comigo... vou te levar pra tomar um café... não têm idade o suficiente pra andar por aí sozinho... mesmo nesse plano.

Foi quando Jaime entendeu uma coisa... uma constante do Universo... seja qual fosse a situação ele jamais esqueceria da frase que lhe ocorreu...

A VIDA É MESMO UMA MERDA

2 comentários:

BANNED disse...

terça-feira, 18 de setembro de 2007, 02:21:15

foi quando escrevi as primeiras linhas desses dois contos e iniciei de verdade minha vida de contias (até parece coisa muito importante)

definitivamente muito influênciado por Grant Morrison, pra variar

Delirium disse...

PAGUEI UM PAU FUDIDO BAN BAN.!
Adorei esse conto XD